quinta-feira, 27 de janeiro de 2011 | By: Alexander Schio

Cisne Negro

Titulo: Cisne Negro (Black Swan)
Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Winona Ryder, Vincent Cassel, Barbara Hershey, Benjamin Millepied.
Direção: Darren Aronofsky
Gênero: Suspense
Duração: 108 min.
Distribuidora: Fox Film

Sinopse: 'Cisne Negro' é um thriller psicológico ambientado no mundo do balé da Cidade de Nova York. Natalie Portman interpreta uma bailarina de destaque que se encontra presa a uma teia de intrigas e competição com uma nova rival interpreta por Mila Kunis. Cisne Negro faz uma viagem emocionante e às vezes aterrorizante à psique de uma jovem bailarina, cujo papel principal como a Rainha dos Cisnes acaba sendo uma peça fundamental para que ela se torne uma dançarina assustadoramente perfeita.




"Ela só queria ser perfeita. Ele só queria mostrar uma vida sem barreiras. "

Darren Aronofsky é um estudioso dos holofotes. Nenhum detalhe da vida constantemente sob escrutínio público, independente de seu tamanho, lhe escapa. Cada momento de terror, cada sorriso vencedor, cada lágrima que cai quando ninguém olha para aquele canto escuro onde a alma busca refúgio da luz onipresente 
e da necessidade de ser bem-sucedido; da perfeição. Esses detalhes o abastecem. Entretanto, para estudar brilho, é preciso reconhecer a sombra. Ela pode não estar presente de forma definida e constante, mas está lá. Essa é uma certeza da vida. 
Dois lados, duas facetas, luz e sombra, uma dualidade eterna representada no conto do Cisne Negro e, agora, subvertido pelo estudioso Aronofsky, numa visita incômoda ao lado mais escuro da consciência: aquele que não reconhece limites ou ameaças. E é na penumbra do palco, sempre solitário e opressivo, que
o balé soturno de Natalie Portman se inicia em Cisne Negro (Black Swan) dando origem a um ciclo intenso, mas possivelmente segmentado demais, de trevas.

Embora muita gente vá invocar O Lutador para avaliar Cisne Negro, o que não deixa de ser uma referência válida e necessária, tendo em vista a proximidade dos trabalhos de Darren Aronofsky, outra linha de raciocínio cinematográfico pode ser envolvida nesse debate: a metalinguagem apresentada por Christopher Nolan em A Origem, isso sem contar uma referência ou outra à comunicação de Tarantino com seu público em Bastardos Inglórios. 
Há duas forças maiores em conflito: a busca pela perfeição e o autoconhecimento. Seria simples, até mesmo prático, encarar essas duas motivações como elementos complementares e, se colocados na ordem [auto-conhecimento e busca pela perfeição], como a trajetória natural e produtiva do processo de amadurecimento. Porém, processos levam tempo. E o tempo é escasso, ou melhor, inexiste em Cisne Negro. Um acontecimento está em progresso, ou melhor, O acontecimento. Mas sua natureza é dúbia e propositalmente confusa numa ininterrupta mescla de realidade, realismo, super-realismo e devaneio descarado.

Entretanto, o engodo não tem por objetivo gerar uma reviravolta grandiosa aos moldes de Clube da Luta, por tratar-se de uma ferramenta dramática, quase uma dimensão paralela acontecendo simultaneamente à trama principal. Diferente de seus personagens, Aronofsky nunca mente ou tem dúvidas como todo comandante ideal. Atravessar a tormenta de Nina, personagem de Natalie Portman, é tarefa árdua em todos os aspectos da criação – desde a estrutura até a forma manifesta de seus conflitos – e o simples fato de concluir a jornada sem perder o rumo é algo digno de elogios.
Restringir os acontecimentos ao mero dualismo soa simplista demais, mas, de fato, é a pura verdade dessa dinâmica. A face pública que todos vêem contrapondo-se à face escondida, revelada apenas nos poucos momentos de solidão; no banheiro, na cama, numa rara tentativa de prazer ao se masturbar. 
Ambas buscando reconhecimento e satisfação, seja com a admiração pública, seja com a simples chance de existir. Duas personas no mesmo espaço físico. 
Esse é o dilema do Cisne Negro – apaixonadamente apresentado por Vincent Cassel, brilhando como o diretor teatral no roteiro, mas, na verdade, a personalização do juiz e carrasco do entretenimento. Seus olhos direcionam o desejo das platéias com a mesma arrogância com a qual decide quem morre e quem sobrevive no seu palco. Tamanha presunção tem sua função, pois ela é fundamental para instigar e provocar, confrontar e desequilibrar, exigir e exigir mais ainda. Sua postura é o elemento transformador, a fagulha que determina a liberação de uma energia devastadora em Natalie Portman. 

Espera-se violência de homens, glorifica-se o surto esquizofrênico de Tyler Durden, idolatra-se o sacrifício “saco cheio” de Randy The Ram, mas o assombro causado por uma delicada bailarina pode ser maior que a queda de um bruto. Perde-se tudo quando a mente se perde.

E tudo por causa das luzes. Dos holofotes. Nolan e Aronofsky parecem compartilhar do desejo pela discussão da importância da estrutura cinematográfica e sua influência na sociedade moderna. Enquanto Nolan cria um castelo de idéias sobrepostas para maximizar os efeitos de um conceito simples, fazendo da 
jornada algo memorável, Aronofsky não mede esforços para construir um calabouço de mágoas e, pouco a pouco, apresenta os elementos de uma Diferente do dilema dos sonhos, Cisne Negro é a realidade manifesta – em diversos níveis de compreensão – e com conclusão incontestável, cujas feridas vão além da transformação imposta sem dó nem piedade (seja por Cassel ou pelos holofotes que atraem a juventude).

Entrar em contato com a natureza instintiva e desregrada da versão sombria da personagem corrompe ideais e propõe uma realidade mais crua e sem limites. 
Nina tem um sonho e idolatra a bailarina que substitui. A nova e jovial promessa que idolatra a estrela decadente e autodestrutiva vivida por Wynona Rider, procurando meios de retraçar seus passos e repetir sua glória. Como encontrar sanidade se o objetivo em si é algo corrupto e falho por natureza? 
É um dos perigos da busca por um momento de satisfação e brilho intenso, mas momentâneo. Crítica social mais que válida, entretanto bastante afetada pela escolha de um meio já repleto de preconceitos e dramas pessoais, o balé feminino. Nina entra na espiral decisiva em sua vida, já devidamente marcada pelas privações do ofício, da paranóia pela concorrência e da piedade depreciativa pela mãe, ex-bailarina afastada 
pela gravidez precoce, mas ainda maravilhada pelo poder do palco.
“Perfeição técnica não supera a necessidade da emoção.”

Constantemente pontuado pela incisiva trilha de Clint Mansell, Cisne Negro levanta várias discussões e questiona uma sociedade de exageros – mentais e físicos. Mostra as reações desconexas de uma mente decida a criar sua própria versão da realidade, liberando desejos reprimidos, sonhos selvagens e atitudes impensáveis. Natalie contribui com fragilidade ímpar e explosão arrebatadora de sensualidade, enquanto Mila Kunis não foge muito de suas limitações. Barbara Hershey é a grande surpresa como a mãe devota e esperançosa. Trabalho admirável e digno de mais atenção que a alardeada cena de sexo entre Portman e Kunis. Natalie consegue ser mais sensual sozinha, ou numa mescla de sedução e dança com 
Cassel do que no rompante de luxúria com Mila.

Entretanto, para que tudo isso se encaixe, é necessário aceitar o pano de fundo. O balé e suas demandas, muito mais conhecidas na base do preconceito que no contato com sua realidade. É um cenário mais ficcional que a própria fábula para os desavisados. Conversava com o escritor Douglas Marques Comito [autor do romance Necrópolis, da Editora Draco] quando ele mencionou um possível paralelo ao “Clube da Luta para mulheres”, mas as semelhanças são pontuais. Embora provoque efeitos físicos, a violência de Cisne Negro é outra; muito mais resultado de pressão exagerada que da mente dividida do filme de David Fincher. Aronofsky mostra a queda de cada mecanismo de defesa, de cada passo em direção à treva. 

São duas histórias simultâneas colaborando para o final apoteótico. Tudo isso proveniente da dança com sua carga elitista e sonhos frágeis. 
Como se compadecer pela jovem bailarina que, diferente de outros dramas, consegue o que busca? Sua conquista é sua ruína. 
É o cão que finalmente mordeu o próprio rabo ou o pneu do automóvel que perseguiria. “E agora o que eu faço com ele?”, perguntaria o Coringa. 
Nina optou pela busca da absoluta perfeição permitindo que a ficção tomasse conta de sua vida. Seu desfecho é grandioso e, como mencionado, apoteótico. 
Perfeito por suas próprias palavras. E assim poderia ser Cisne Negro – perfeito –, mas a chave está na principal fala de Cassel: “perfeição técnica não supera necessidade a emoção”, ou algo assim. Aronofsky leva o espectador a buscar a perfeição e deixa a emoção nas mãos de Natalie Portman, que permanece meramente técnica até o final. O julgamento fica nas mãos da platéia. E da posteridade. A música deixou de tocar. Os holofotes não se apagam. The show must go on.






terça-feira, 25 de janeiro de 2011 | By: Alexander Schio

Deixe Me Entrar


Titulo: Deixe-me Entrar (Let Me In)
Gênero: Drama, Fantasia, Terror, Romance e Suspense
Origem: Reino Unido e Estados Unidos
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Matt Reeves e John Ajvide Lindqvist
Distribuidora: Paramount Pictures
Ano: 2010



Sinopse: Owen (Kodi Smit-McPhee), é um menino de 12 anos que é freqüentemente provocado pelos colegas de classe. Mas com a chegada de Abby (Chloe Moretz), uma menina séria e pálida da mesma idade, que se muda para a vizinhança com seu silencioso pai, Owen ganha uma amiga.


Quando a vizinhança começa a ter uma onda de assassinatos e desaparecimentos inexplicáveis, Owen, fascinado por histórias de terror, não demora para perceber que sua amiga Abby é uma vampira. Com a descoberta, Abby começa a dar coragem para o menino para que ele lute contra seus agressores



Curiosidades: 
» Refilmagem do terror sueco 'Deixe ela Entrar' (Let the Right One In).
» Chloe Moretz, que despontou para a fama com 'Kick-Ass', vive a vampira Abby. Kodi Smit-McPhee, de 'A Estrada' (The Road), protagoniza.
» Matt Reeves ('Cloverfield') roteiriza e dirige.


Quando soube que seria feito o remake do original sueco do filme fiquei pensando, putz! mais um filme de vampiro para encher a paciência e as salas de cinema.
Mas após muito pensar e um pouco de tédio eu assisti ao "Deixe Me Entrar". Em plena época de "SAGA CREPUSCULO" ver um filme sobre vampiros chega a ser sem graça, era sobre um vampiro, era, mas era também uma abordagem ao mito nunca antes vista: negra, melancólica, brutal, romântica e encantadora. Era um filme de terror disfarçado de drama pseudo-infantil, uma história de amor e um ensaio sobre a preciosidade da vida e da amizade. O anúncio de um remake foi mal falado, anúncio esse que causou obviamente com que se torcessem narizes um pouco por todo o mundo face ao já natural déficit de criatividade e originalidade da máquina de Hollywood. Duvidava-se, acima de tudo, da capacidade de adaptar um filme e uma história que bebiam muito da cultura escandinávia e receava-se, como sempre, a possibilidade de esta vir a sair manchada e insultada pelo remake. Porém o veredicto é, por mais que custe, inegavelmente positivo.





A principio o filme foca na relação dos dois personagens principais, a Vampira Abby e o Menino Owen.
O filme demora um pouco para se desenvolver, mas é interessante o roteiro, os diálogos e as atuações mirins do filme. O clima sombrio e os conflitos internos dos personagens transparecem como agua, não há duvida sobre o que cada um precisa para superar seus problemas.



quarta-feira, 19 de janeiro de 2011 | By: Alexander Schio

A Fita Branca

Titulo: A Fita Branca (Dass Weisse Band)

Gênero: Crime, Drama e Mistério
Duração: 144 min.
Ano de Lançamento: 2010
Direção: Michael Haneke
Roteiro: Michael Haneke
Distribuidora: Imovision

Sinopse: Um vilarejo protestante no norte da Alemanha, em 1913, às vésperas da Primeira Guerra Mundial. A história de crianças e adolescentes de um coral dirigido pelo professor primário do vilarejo e suas famílias: o barão, o reitor, o pastor, o médico, a parteira, os camponeses. Estranhos acidentes começam a acontecer e tomam aos poucos o caráter de um ritual punitivo. O que se esconde por trás desses acontecimentos?

O filme retrata o cotidiano de uma pequena aldeia alemã as vésperas do começo da primeira guerra, fazendo um panorama daquela sociedade, que era extremamente reprimida e que está quase sempre a beira da desgraça causada pela inveja, ódio e preconceito.
"A Fita Branca" é uma reflexão sobre a educação severa que os adultos daquele vilarejo impõem sobre as crianças.
Castigos e surras como forma de punição para a menor das travessuras. É a formação de uma distopia social que, segundo Haneke em suas entrevistas, leva ao fascismo (e não ao nazismo, como muitos têm mal interpretado). Isto é, no autoritarismo com que os pais tratam seus filhos no vilarejo, difunde-se entre as crianças um vilipêndio por tudo aquilo que não é "certo". E crianças, sabemos, têm uma visão muito peculiar do mundo. Estão em formação intelectual e moral.


E com um terreno extremamente fértil em suas cabeças, a semente ali plantada florescerá rápida e ferozmente.
Essas reflexões começam a ocorrer a partir de um estranho acidente sofrido pelo médico da cidade, em seguida fatos estranhos como morte de pessoas, castigos e humilhações começam a ocorrer com certa freqüência, quase sempre encobertos pelos próprios cidadãos.
A Fita Branca faz um paralelo entre esses acontecimentos com os anos sanguinários e facistas que a Alemanha passaria e toda incerteza momentânea deixa rastros de como a tragédia pode terminar.
A produção, às vezes, parece cair na monotonia e quem prefere algo mais agitado, pode se decepcionar um pouco.
Venceu em maio do ano passado a Palma de Ouro no Festival de Cannes e é o favorito para ficar com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.